Terrible two e threenagers: como lidar com a “adolescência” na primeira infância.
Depois de nove meses de gestação, a hora do parto parece a experiência mais desafiadora que a mãe terá pela frente. Mas passada toda a euforia desse grande momento, o primeiro ano do bebê muda radicalmente a vida de qualquer pessoa. Todo o trabalho, no entanto, é recompensado por muitos sorrisos banguelas e aquelas mãozinhas gorduchas e pequeninas ao redor do pescoço. Por esse motivo, o susto que a chegada dos 2 anos proporciona é grande. “É uma fase muito desafiadora para pais e educadores. As turmas do Maternal 2 são as mais difíceis de lidar, as mais complicadas, em que as crianças apresentam mais questões. E não é uma coincidência”, atesta Carolina Barra, professora da creche-escola Kindergarten Recreio.
Carolina explica que é nessa fase, conhecida por terrible twos [terríveis dois anos, em inglês], que os pequenos começam a se sentir o centro do universo e que, por isso, esperam que tudo aconteça em torno deles. E haja birra quando são contrariados! “Antes mesmo dos 2 anos, a criança já apresenta esse egocentrismo, mas ela ainda não tem tanta capacidade de demonstrar isso, tanto conhecimento sobre o próprio corpo, sobre o que ela quer”, conta.
E quando tudo parece que vai se acalmar – afinal, aos 3 anos, teremos uma criança mais madura, certo? –, vemos que a coisa não é bem assim. “Nessa fase, que pode ir até os 4 anos, a criança começa a se descobrir, a descobrir o mundo. E ela quer aproveitar essas conquistas. Ela tem uma curiosidade muito grande, é a fase dos porquês – ela quer entender melhor as coisas, aí pergunta o porquê de tudo. E também é uma fase muito agitada. A criança já sente bastante confiança no corpo dela, sabe até onde pode chegar e quer aproveitar isso ao máximo, então, é um período em que os pequenos precisam muito correr, se movimentar, porque eles têm muita energia para gastar”, relata a educadora.
Ainda segundo Carolina, as palavras-chave para esse período, chamado de threenagers e considerado a “adolescência” da primeira infância, são limite e paciência. “Eles estão sempre querendo argumentar, mas, muitas vezes, também não querem conversar. Você vai tentar falar algo e eles viram o rosto, se jogam no chão. É aquela fase em que eles estão tentando desafiar você a todo momento”, explica. E avisa: “Não dá para querer vencer no grito. É preciso buscar ferramentas para não deixar chegar a esse nível. Então, uma das coisas que faço com eles é estabelecer os combinados antes de a atividade começar. Eu trabalho muitos jogos, que eles adoram. Por outro lado, por causa da ansiedade, não querem esperar a vez deles, então, antes de começar a brincadeira, já antecipo os comandos. Mas é desgastante porque isso tem que ser repetido inúmeras vezes e nem sempre vai ter o resultado esperado naquele dia. Mas é um trabalho contínuo. Não tem uma fórmula mágica.”.
- Dê opções e deixe a criança escolher – nessa fase, ela busca autonomia, quer se sentir no comando.
- Mude o foco – quando perceber que as coisas vão sair do controle, evite o embate. Chame a atenção da criança para outra coisa que a agrade e deixe a tensão passar.
- Respire – se a birra foi inevitável, saia de cena e respire. Muitas vezes, precisamos de um tempo para nos acalmarmos e não perder o controle com a criança.
- Brinque – precisa sair de casa e a criança não quer desligar a TV? Proponha que saiam pulando como coelhos ou diga que precisam descobrir um mistério na portaria. Envolva a criança em uma história e evite o embate.
- Antecipe-se – a criança gosta de calçar o próprio sapato ou vestir a própria roupa, mas acaba levando muito tempo para isso. Comece a se arrumar mais cedo para evitar atrasos e estresse.
- Converse – coloque-se no lugar do seu filho e diga que entende o que ele está sentindo. Relate algum momento em que já sentiu a mesma coisa e explique que sentir raiva, medo, angústia, tristeza, ansiedade é normal.
- Proponha soluções – se ao ficar irritada a criança tem tendência a bater, dê como alternativa uma almofada para que ela possa extravasar a raiva sem ferir ninguém, por exemplo.
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