Entenda por que as crianças mordem e saiba como lidar com essa fase
Um dia você está com um bebê fofinho nos braços, vibrando a cada sorriso banguela. No outro, quase cai para trás com a notícia de que ele anda distribuindo mordidas entre os amiguinhos. Esta situação parece estranha para uns, mas faz parte da rotina de muitos pais de crianças entre 1 e 3 anos. Ela acontece devido à chamada fase oral, período em que a boca ainda é a maior forma de contato da criança com o mundo. Mas apesar das mordidas serem consideradas comuns nessa fase, segundo a psicóloga Rosa Caravelos elas não devem ser naturalizadas. “Se é um comportamento ocasional, não é preciso levar muito a sério. Mas é necessário saber que a criança não deveria morder, então se essa atitude começa a se tornar rotineira, ela não pode ser considerada normal”, explica em conversa com a Kindergarten Recreio.
Segundo a terapeuta, a criança usa a mordida para expressar algum sentimento que ela não consegue dizer através da fala, ainda em desenvolvimento. Por este motivo é preciso estar atento aos gatilhos desse comportamento. “Algumas situações geram na criança um nível alto de estresse, como alguma mudança, seja de casa, escola, professor, perda de um parente, de um animal de estimação ou até de um brinquedo muito querido. Discussões em casa ou em ambientes que a criança frequente, mesmo que não sejam com ela, também podem gerar ansiedade e angústia, que acabam sendo extravasadas em forma de mordidas”, pontua.
E ainda que para o adulto tudo pareça normal, é preciso observar com lente de aumento a rotina e as reações da criança, já que muitas vezes o que pode parecer corriqueiro para quem já tem a maturidade desenvolvida, ainda é assustador para alguém tão pequeno. “O dia a dia pode estar muito corrido ou as pessoas que convivem com essa criança podem estar muito estressadas ou ansiosas. Às vezes tudo o que ela quer é chamar a atenção para dizer que algo não vai bem, ou que precisa de mais apoio para determinadas tarefas”, alerta. Nestes casos, portanto, alguns ajustes na rotina podem trazer bons resultados.
Rosa Caravelos avisa que o oposto também pode ser prejudicial. “Uma criança que tem todas as suas vontades atendidas em casa, por exemplo, quando chega à escola não consegue esperar sua vez, não sabe dividir tempo, atenção, brinquedos. Muitas vezes uma criança de 3 anos ainda é tratada como um bebê, e qualquer coisa que a contrarie ela pode demonstrar o desagrado na raiva”, detalha. Outro ponto levantado pela especialista diz respeito a uma brincadeira comum entre pais de pequenos: “Se o adulto brinca de dar mordiscadas, ele está apresentando para a criança um tipo de comportamento. E ela repete isso, assim como repete praticamente tudo o que os pais fazem. Eles são os heróis dela”.
A psicóloga sugere que a criança seja repreendida no ato da mordida de forma firme, porém sem agressividade. “É preciso dizer que esse comportamento não será aceito e explicar que ela tem outras formas de colocar para fora seus sentimentos. Usando histórias, como a do leão que ruge quando está com raiva, é possível dar à criança alternativas melhores para se expressar do que a mordida”, orienta. E finaliza: “Mostrar que a mordida machucou o amigo e colocá-la naquele contexto, seja pedindo desculpas, fazendo um carinho ou mesmo ajudando a cuidar do machucado pode ser uma forma de evidenciar para aquela criança que essa atitude pode provocar sofrimento no outro”.
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