Saúde mental na quarentena: como minimizar os efeitos do isolamento social:
O mundo parou. A demonstração de afeto, que antes era marcada por beijos e abraços, agora se chama distanciamento social. Para conter a pandemia do Coronavírus, famílias estão fechadas em suas casas, pais trabalhando home office e crianças precisando criar, pela primeira vez sozinhas, novas rotinas de diversão e estudo. Para a psicóloga Beatrice Grecco Zanon, esta situação inédita pode se manifestar de formas diferentes entre as pessoas. “Alguns podem sair mais fortalecidos, compreendendo que são capazes de passar por situações muito complicadas e complexas. Já outros podem ficar abalados, perdidos”, avalia.
O mundo parou. A demonstração de afeto, que antes era marcada por beijos e abraços, agora se chama distanciamento social. Para conter a pandemia do Coronavírus, famílias estão fechadas em suas casas, pais trabalhando home office e crianças precisando criar, pela primeira vez sozinhas, novas rotinas de diversão e estudo. Para a psicóloga Beatrice Grecco Zanon, esta situação inédita pode se manifestar de formas diferentes entre as pessoas. “Alguns podem sair mais fortalecidos, compreendendo que são capazes de passar por situações muito complicadas e complexas. Já outros podem ficar abalados, perdidos”, avalia.
Segundo a profissional, múltiplos são os fatores que vão determinar como cada indivíduo vai reagir a este momento adverso. “O ambiente está totalmente diferente de tudo aquilo que a gente pensou e programou para nossas vidas. Mas agora a saúde mental é o que vai permitir com que cada um faça uso das suas habilidades de uma maneira produtiva”, explica. E pontua que a situação pessoal de cada família também vai definir seu modo de lidar com o problema: “A gente não pode colocar todo mundo no mesmo pacote. A crise é global, mas a circunstância de cada indivíduo é particular. E isso deve ser levado em conta”.
Convidada a falar diretamente aos pais de alunos da Kindergarten Recreio e dar dicas de como deixar o ambiente em casa mais favorável para os pequenos, Beatrice lembra que, por se tratar de uma situação inédita, também não sabemos como as crianças absorver tudo isso. “Será que eles vão se recordar das angústias ou do maior tempo que passaram com os pais em casa?”, questiona. Possivelmente cada uma vai guardar um tipo de lembrança, mas para ela é preciso observar alguns sinais de alerta que podem aparecer neste período conturbado.
“É natural que nossos sentimentos estejam alterados, mas se apesar disso a gente consegue lidar com o dia a dia, ok. Mas se a mudança de comportamento for extrema, um alerta tem que acender. Especialmente no caso das crianças que não vão conseguir comunicar bem o que estão sentindo”, explica. E detalha: “Considerando o comportamento habitual da criança, se ela passou a comer muito menos, ou muito mais, se está dormindo muito menos ou mais, se está apático ou agitado demais, se pergunta excessivamente sobre o vírus, mortes, sobre como se adoece. Se tem sintomas físicos, como dor de cabeça ou problemas gástricos. Tudo isso pode significar que algo não está bem. É importante que os pais não minimizem achando que, por serem crianças, não estão entendendo nada. Eles percebem e têm formas diferentes de manifestar suas angústias”.
A seguir, Beatrice Zanon dá dicas práticas para este longo período em casa:
· O momento é de ser flexível. Com você, com as crianças e com os outros. Não estamos vivendo uma situação regular, então não dá para fazer tudo como se a vida estivesse normal. Precisamos flexibilizar nossas ações, reações e regras. Nós não precisamos criar mais dificuldades para este momento, ao contrário, é importante respeitar o ritmo de cada um.
· Viver um estresse – e aprender a lidar com ele – faz parte da vida de todos. Cuide, apenas, para que não seja um estresse contínuo, tóxico. É preciso que a criança seja ouvida com atenção e consideração para que possa expressar seus medos e angústias e que seja amparada.
· É importante e combinar com a criança as atividades desta nova rotina. Explicar que enquanto os pais trabalham eles precisam de um tempo maior de tranquilidade e que, por isso, ela pode ver um desenho ou brincar com o jogo preferido.
· Se possível os pais devem intercalar suas rotinas de trabalho para que um sempre fique mais disponível para a criança. Mas quanto menor a criança mais difíceis são os combinados. Por isso a palavra de ordem é tolerância.
· Deixe a criança participar da nova rotina da casa. Com mais gente é preciso mais organização, limpeza, arrumação e todos devem ajudar. Delegue tarefas de acordo com a idade para que os pequenos também se sintam úteis.
· Converse sobre o que está acontecendo. A criança sabe que as aulas pararam, todos estão em casa e percebe os adultos tensos. Pergunte o que ela já sabe sobre o assunto e, usando uma linguagem adequada para a idade, tire as dúvidas. Existe uma máxima que diz que a fantasia é sempre pior do que a realidade. Os monstros são criados no escuro, quando a gente não tem informações e as imagina.
· Ensine de forma lúdica, através de músicas, histórias e brincadeiras, as regras de higiene e proteção. É importante que as crianças entendam que isso é o que nós podemos fazer para nos proteger do vírus.
· Jamais prometa o que não pode cumprir. Caso a criança pergunte se ela ou alguém da família pegará a doença não diga que não porque você não tem como saber. No lugar diga: ‘Hoje estamos bem e vamos continuar nos protegendo, ficando em casa. E se precisarmos sair vamos usar máscaras e luvas e lavar bem as mãos’. Além de ser mais honesta, essa resposta tira o foco do sofrimento antecipado e faz com que a gente consiga lidar de forma objetiva com a situação.
· Incentive a gratidão por estarem bem e em casa e faça com que a criança note os privilégios que tem. Se a situação estiver muito difícil, com problemas de saúde ou financeiros, reforce a capacidade de superação e a força dessa família, especialmente se eles se mantiverem unidos.
· O contato da criança com a creche através de vídeos e atividades é bom para dar um senso de continuidade, manter o vínculo. Traz a mensagem de que algumas coisas permanecem iguais, apesar do caos. Mas a rotina deve existir como um auxiliador, não como um peso. Não estamos tratando de bater metas, queremos apenas que nossas crianças passem da melhor forma possível por esse momento de crise.
· Estimule brincadeiras em uma varanda, quintal, perto da janela, no lugar mais arejado da casa. O contato com o sol e com um pouco de natureza é positivo.
· As videoconferências são ótimas para manter o vínculo da criança com amigos, avós e outras pessoas próximas. Mas prefira assuntos mais leves e descontraídos. Evite falar todo o tempo sobre os problemas.
· Seja um modelo para seu filho. Se neste momento ficar na frente de telas é imprescindível, alterne isso com conversas e brincadeiras que promovam a interação entre as pessoas da casa.
· Não estamos de férias. Então por mais que tenhamos que ser flexíveis por se tratar de uma situação atípica, não podemos fugir totalmente da rotina como fazemos nas férias. Afinal não sabemos quanto tempo isso vai durar e, portanto, precisamos de um mínimo de planejamento e organização para os nossos dias.
· Entenda que, agora, ninguém precisa negar tristeza, irritação e cansaço. Esses sentimentos devem ser confirmados, inclusive para as crianças. Mas todos precisam saber que é possível conviver com eles e ainda assim manter uma atitude de confiança e de compreensão de que apesar das dificuldades existe uma possibilidade concreta e real de que vamos superar tudo isso.
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