Os números são impressionantes: mais de 50 mil curtidas, 13 mil comentários e 40 mil compartilhamentos. Tudo isso em um único post do Facebook publicado no dia 25 de abril deste ano, pouco mais de um mês após o início do isolamento social no Brasil, em decorrência do Coronavírus. E engana-se quem pensa que o texto em questão é sobre a pandemia. Ele trata de educação. E logo deu origem à página Educação Contagiante. Autor de ambos, o professor André Luís Corrêa defende que nem presencial, nem virtual o modo de ensinar deve partir apenas do professor, mas principalmente do interesse do aluno.
No post do Facebook, André Luís conta que ao perceber o desgaste dos professores para preparar inúmeras videoaulas, decidiu fazer diferente em sua casa, com seus dois filhos de 5 e 7 anos. “Abri uma conta de e-mail para meu filho e outra para minha filha. Criamos contas familiares com controle parental usando o Google Family Link. Criamos uma sala de aula no Google Classroom e nos inserimos como professores e nossos filhos como alunos”, escreveu no post que viralizou. A partir daí, pediu que as crianças escolhessem os temas que queriam pesquisar.
O mais velho queria saber como Thor, o super-herói da Marvel, ganhou o martelo. “Minha esposa olhou para mim desconfiada”, assumiu. Mas segundo André, a experiência deu tão certo que além de descobrir a resposta para a pergunta a partir de pesquisas, leitura e até telefonema para um tio-avô, o filho também acabou aprendendo sobre origens de palavras em outros idiomas, mitologia, geografia e história. “Incrível ver a criança aprendendo no ritmo dela, na profundidade que ela quer, segundo a curiosidade dela”, contou, entusiasmado.
A mais nova teve uma ajuda maior do pai nas pesquisas. “A criança pequena precisa ser concreta. Ela não sabe ler e escrever, mas os pais podem gravar vídeos com ela, por exemplo”, explica André Luís, em conversa com a Kindergarten Recreio. E dá uma dica de atividade, aprendida com o educador português José Pacheco, que pode ser feita com os pequenos que já estão na fase de conhecer as letras, mas ainda não conseguem juntá-las. “Peça para a criança escolher objetos da casa e cole placas com os nomes deles. Mostre os nomes para a criança, deixe que ela observe bastante. No dia seguinte tire três papeis e incentive que ela cole os nomes nos objetos. Juntos falem as letras, juntem as sílabas. Logo minha filha, que ainda não sabe ler, acertou 6 palavras. Educação é algo lindo demais!”, vibra.
Para o professor, é preciso compreender que todos estamos passando por um momento atípico. “Está acontecendo [nas casas] uma amostra grátis do que acontece nas escolas há anos. Os pais estão vendo. E os professores que se negavam a usar a tecnologia agora estão sendo obrigados a usar e estão entendendo o seu papel”, explica. E avisa que não é contra as aulas virtuais, mas questiona o modelo adotado por muitos. “Nem todas as crianças têm o perfil para ficar sentadas na frente do computador por muito tempo. Não obrigue. Seu filho nunca esteve nessa situação, ele está se adaptando. Tem que ter paciência. Se agora ele aguenta 5 minutos, ok. E talvez mês que vem serão 10 minutos. Tem que ir com calma”, avalia. E afirma: “A melhor maneira de ensinar é trazer o conhecimento para a vida do aluno. Mostrar que ele é aplicável. Se for prazeroso, faz. Se não for, para e tente depois. Nesse momento forçar só causa mais estresse”.
André Luís Corrêa cita um trecho do livro “A Educação dos Sentidos”, de Rubem Alves, para lembrar que, especialmente na educação infantil – mas também em todas as outras fases da vida –, é preciso saber enxergar pela ótica do prazer e não só da utilidade. “O que a criança tem de mais feliz é saber se enxergar sob a ótica da caixa do brinquedo, ou seja, para ela as coisas ainda têm que ser mais prazerosas do que úteis”. E encerra: “Foquem em atividades lúdicas, divertidas. Os pais precisam fazer sua autoeducação também. Saibam que, agora mais do que nunca, seu filho está te observando 24 horas por dia e isso exige da gente uma atenção muito maior em atitude, em quais valores queremos passar para nossas crianças”.
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