Desde março a rotina do mundo mudou completamente. E se para os adultos esse “novo normal” gera estranhamento e ansiedade, para as crianças que ainda não têm total clareza do que está acontecendo tudo pode parecer ainda mais confuso. Por isso, segundo a psicóloga Beatrice Grecco Zanon, na hora de tratar do assunto quanto mais sinceros os pais forem com os filhos, melhor. “Com as aulas prestes a voltar, temos que explicar que, apesar do retorno, as coisas não serão como antes. Nós ainda temos que ter alguns cuidados e fazer algumas adaptações”, avisa, em conversa com a Kindergarten Recreio.
Para a profissional, é normal se num primeiro momento os pequenos rejeitarem tanta mudança. “É possível e bastante provável que eles estranhem o uso de máscaras e essa nova rotina do ambiente escolar, já tão familiar anteriormente. Mas acredito se a criança está acompanhando toda essa movimentação em casa e nas ruas, não é uma novidade total e rapidamente ela vai se habituar”, pontua.
Beatrice avisa que, mais uma vez, a honestidade inclusive em assumir suas próprias incertezas é o melhor caminho para orientar os filhos: “Se perguntarem, por exemplo, se vamos ter que usar máscaras para sempre, seja sincera e diga que por enquanto sim, mas que ainda não sabemos por quanto tempo isso vai ser necessário. E explique que esse é um jeito de nos cuidarmos”. E frisa: “De fato nós não sabemos. Não temos resposta ainda sobre todas as coisas que estão acontecendo. Então é importante responder apenas o que a criança perguntou e de acordo com o entendimento dela”.
Ainda sem data definida, mas cada vez mais próxima de acontecer, a volta às aulas, segundo a psicóloga, deve ser assunto em casa, mas tratado de forma casual. “Existem coisas que são da vida prática, como separar uniformes, ver se eles estão adequados para serem usados, ver onde a mochila foi guardada e se ela precisa ser lavada. E a criança pode e deve participar desses processos, que já são a introdução do que está por vir”, orienta. E afirma que falar dos momentos felizes na escola e com os colegas de sala também é uma boa maneira de introduzir o assunto de forma natural. “Permita, ainda, que a criança expresse seus medos, angústias e opiniões e saiba que estas podem não ser iguais às dos pais. Temos que estar disponíveis para a criança, para ouvi-la e descobrir suas expectativas”, ensina.
Aproveite, também, para abordar assuntos que fazem parte do novo protocolo para a retomada das aulas. “Prepare a criança para o que você já sabe que ela vai encontrar: professoras de máscara, hábitos de higiene mais intensos, menos contato físico. E foque em notícias boas: se ela não pode dar beijos e abraços nos amigos, já vai poder brincar com todos eles quando as aulas voltarem. As crianças não entendem regras como punição se estiverem bem orientadas”, garante Beatrice.
Segundo a psicóloga, é praticamente impossível prever exatamente como cada criança vai reagir a essa nova rotina, agora fora de casa. “Pode ser que aquela criança mais reservada surpreenda e se readapte muito bem e outra criança aparentemente mais tranquila tenha mais dificuldade. Não sabemos, é tudo novo para todo mundo”, aponta. Mas Beatrice acredita que a conduta dos responsáveis pode ajudar ou até mesmo dificultar o processo de readaptação das crianças. “Os adultos têm que cuidar de sua ansiedade da mesma forma com que cuidam dos sentimentos conflituosos dos filhos. É o posicionamento dos pais diante dessa situação, o nível de tranquilidade com que eles conseguem lidar com essas circunstâncias que vão refletir em como a criança vai reagir”, pontua. E reafirma: “Deseja-se passar para as crianças a ideia de que a circunstância requer cuidado, porém não insegurança ou desespero”.
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