Em março fomos surpreendidos por uma assustadora realidade e, desde então, a rotina de todos mudou completamente. Pouco a pouco começamos a nos habituar ao chamado “novo normal”, mas a incerteza do que vem pela frente não tem deixado ninguém confortável. “Emocionalmente essa instabilidade é desgastante”, afirma a psicóloga Beatrice Grecco Zanon. E quando o olhar se volta para as crianças, explicar o “talvez” ou dizer “não sei” fica ainda mais complicado.
Recentemente o Rio de Janeiro iniciou a flexibilização, mas nada ainda foi definido sobre o retorno às aulas da pré-escola. O assunto, que foi parar na Justiça, com o passar do tempo vem gerando muita expectativa nos pais de alunos dessa faixa etária. Consequentemente, as crianças também são impactadas por toda essa indecisão. “Essa incerteza é prejudicial para todos, tanto para quem está animado, na espera pela volta às aulas, quanto para aqueles que estão acomodados com a rotina atual ou inseguros com o retorno”, pontua Beatrice.
Para a psicóloga, a melhor forma de driblar essa instabilidade é passar segurança para os pequenos e ouvir com atenção todas as suas angústias. “Respeitar um pedido [da criança], um ‘não’, um comportamento inesperado, não significa ser permissivo e fazer exatamente o que a criança quer, mas sim reconhecer a necessidade dela naquele momento. A criança precisa ter a certeza de que é levada a sério e é respeitada, sem julgamentos, sem gritos, sem castigos e sem manipulações”, orienta.
E exemplifica citando um caso hipotético de uma criança que, ao conversar com os pais, chora dizendo que quer ficar com eles em casa ao invés de ir para a creche quando as aulas voltarem. “Em vez de dizer que ela não tem motivo para chorar e que já está grande demais para isso, experimente dizer: ‘Eu entendo que está tudo mudando muito rápido [acolhimento]. Às vezes, nem eu consigo entender direito [empatia]. Eu sei que você se sente assustado e com medo, e tem todo o direito de se sentir assim [reconhecimento]. Quando me sinto desta forma eu converso com alguém em quem eu confio bastante e às vezes choro [modelo]. Eu estou com você e você estará seguro’”.
Beatrice explica que o exemplo acima também pode ser usado para lidar com as crianças que estão ansiosas pelo retorno, mas ainda não podem fazê-lo e sofrem com essa instabilidade. “É óbvio que isso não muda a situação em si. A criança, por uma razão que lhe é particular, deseja algo, vive uma circunstância totalmente incerta e não há quem possa garantir o que e quando as coisas que ela quer serão possíveis”, explica.
E encerra acrescentando que, em momentos como esses, o melhor a se fazer, em qualquer idade, é vivenciar plenamente todas as emoções. “Não podemos negar e nem precisamos esconder o que estamos sentindo. Devemos estar mais do que nunca presentes e conectados aos nossos filhos para que eles fiquem mais fortes e resilientes para lidarem com os desafios. Mesmo que estes sejam imensos, como são agora em que tudo parece ter sido virado do avesso”.