O desenvolvimento infantil é um universo cheio de encantamento para os pais. A cada etapa conquistada, muita comemoração. Mas a apreensão surge a todo o momento, especialmente quando as crianças são comparadas umas às outras. A frase “cada criança tem o seu tempo” nunca fez tanto sentido nessa etapa, mas também pode vir carregada de preocupações.
Depois do andar, o falar é um dos momentos mais aguardados pelos responsáveis. Mas qual é a hora certa de se preocupar caso a oralidade demore? Quais são os sinais de alerta? Como a criança deve ser estimulada? Segundo a fonoaudióloga Carolina Zottolo, a partir de 1 ano já é esperado que a criança fale palavras soltas. Neste momento, o repertório ainda é pequeno e ela pode, inclusive, apenas juntar sílabas. “Com 1 ano e meio a 2 anos a criança começa a combinar duas palavras em frases bem curtinhas, como ‘dá água’, ‘quer mamar’. O importante é saber que, a partir daí, o esperado é que a criança sempre evolua, nunca regrida”, observa.
A profissional avisa que, para desenvolver a fala, a criança precisa ser estimulada. “Passar o dia na frente da TV não vai fazer com que ela ouça muitas palavras e as repita. Muitas vezes a criança não está nem prestando atenção no que está sendo dito”, explica. “Os pais devem sentar para brincar com seus filhos diariamente e repetir as palavras diversas vezes, ligando-as ao objeto. Se a criança aponta para o copo pedindo água é importante que o responsável nomeie aquele objeto ao invés de só entregar a água para ela”, orienta. “Aproveitar o momento do banho para nomear as partes do corpo, por exemplo, também é uma boa oportunidade de interagir com a criança”, ensina.
De acordo com a fonoaudióloga, quanto mais vezes a criança ouvir o nome do objeto, mais facilidade terá de nomeá-lo: “É fundamental também que os pais, ao conversarem com a criança, falem as palavras corretamente. Nada de ‘dedeira’ ou ‘pepeta’. Quanto mais a criança tiver acesso a um vocabulário correto, melhor ela vai conseguir se expressar, especialmente em outros ambientes”.
Carolina Zottolo explica que além da falta de estímulo, não socializar a criança pode provocar atrasos em seu desenvolvimento: “No geral, quem tem irmãos mais velhos não enfrenta esse tipo de problema. Por isso, se a criança não tiver contato com outras crianças em casa é importante que ela frequente o ambiente escolar desde cedo ou, ao menos, consiga interagir em pracinhas, com primos, vizinhos, etc”.
Fatores externos também podem facilitar problemas na fala, como chupeta e o uso excessivo de telas: “A chupeta tende a alterar o padrão da arcada dentária e a criança pode apresentar dificuldade para falar alguns fonemas. Em excesso, seu uso também pode atrapalhar a mastigação e até a respiração, já que quando chupa chupeta a criança fica com a boca entreaberta, o que pode favorecer a respiração oral”.
Para a fonoaudióloga, se necessário a chupeta pode ser usada apenas para induzir a criança ao sono e retirada logo após: “Durante o dia a criança não deve ficar de chupeta e este hábito, mesmo que eventual, deve ser interrompido entre os 2 e 3 anos para que não haja grande prejuízo”. E alerta: “Assim como a chupeta, o hábito de chupar o dedo causa os mesmos problemas e pode até se agravar pelo fato de o dedo estar sempre ao alcance da criança, então acaba se tornando um hábito ainda mais difícil de ser retirado”.
Carolina Zottolo avalia que não se pode padronizar as crianças, já que cada uma tem um ritmo e estimulações diferentes. Mas um sinal de alerta deve ser ligado quando, aos 2 anos de idade, o vocabulário for muito restrito ou fora de contexto. “Se nesta idade a criança não fala nada, não tem interesse por brinquedos ou tem dificuldade de se concentrar nas brincadeiras o pediatra deve ser procurado para uma primeira avaliação. A partir daí, sabendo do histórico da criança, o médico poderá encaminhar para um fonoaudiólogo, se necessário. Crianças que têm atraso motor, por exemplo, podem também ter atraso na fala. Então é importante que o profissional conheça o desenvolvimento global da criança”.
Para os maiores que já conquistaram a oralidade, problemas na fala também podem preocupar pais e cuidadores. “Entre 2 anos e meio e 3 anos é comum a criança apresentar uma gagueira transitória. Ela pode começar a ter bloqueios na fala, repetir palavras ou fonemas. Os pais devem ter paciência, nunca rir ou brigar com a criança. É esperado que este período seja breve, mas se for muito prolongado é recomendado que um profissional seja procurado”, orienta Carolina.
Até os 4 anos, segundo Carolina Zottolo, algumas crianças também podem apresentar dislalia, que é a troca de letras: “O fonema R, por exemplo, é o mais difícil para eles e pode não ser pronunciado. Mas se depois dessa idade o problema persistir é importante que os pais busquem um fonoaudiólogo para iniciar o tratamento”. “Se a criança começa a entrar na idade de iniciar o processo da escrita, essa dificuldade oral pode atrapalhar o aprendizado e o problema ser agravado”, justifica.
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