“É preciso de uma aldeia inteira para criar uma criança”. O provérbio africano se refere, entre outras coisas, a rede de apoio que uma família precisa ter para conseguir que uma criança cresça em plena harmonia e segurança. Em nossa sociedade atual, contudo, a criação de um filho é quase que exclusividade da mãe, pouco do pai, raramente de outras pessoas.
Criar em conjunto não significa delegar funções, mas sim ter com quem contar e compartilhar. Com a vida corrida, especialmente nas grandes cidades, que faz com que a mulher volte a trabalhar poucos meses após dar à luz, a escolha de uma creche-escola humanizada, com olhar atento para os pequenos, torna-se peça-chave para uma boa criação. “Muitas vezes a criança fica mais tempo na creche do que com os pais”, lembra Marcia Andrade, idealizadora da Kindergarten Recreio.
Segundo Márcia, que também é psicóloga, a parceria entre família e escola é fundamental na construção dessa rede de apoio. “Todos dentro da creche devem ser os olhos dessa família, não apenas a professora. Ajudantes, diretora, coordenadora, cozinheira, faxineira… Todos devem estar aptos a perceber comportamentos estranhos e alertar os pais”, avisa.
A psicóloga afirma que, para isso, é preciso que a criança esteja em uma escola mais exclusiva, onde não seja vista apenas como um número. “Nascemos uma creche pequena, voltada para a primeira infância. Nosso objetivo sempre foi ter turmas menores para que pudéssemos ter um olhar mais individualizado para cada aluno. Cada criança tem suas características, sua personalidade. E se conhecermos bem esse indivíduo vamos conseguir observar rapidamente quando surgir alguma mudança significativa”, explica.
Para Márcia, qualquer alteração no comportamento do aluno deve ser comunicada aos pais. “A família muitas vezes acredita ter uma rede de apoio formada por um grupo de amigos ou mesmo outros familiares. Mas o que vemos é que muitos adultos têm receio de relatar algo mais grave que observaram, acham que não devem se meter e acabam não tomando nenhuma atitude. Mas um caso ou suspeita de violência, por exemplo, seja ela de qualquer tipo, deve ser imediatamente avisado. Seja conversando com os responsáveis ou ligando para o Disque 100, que é um canal oficial de proteção para crianças e adolescentes, onde as denúncias podem ser inclusive anônimas. Todos somos, sim, responsáveis”, frisa.
Márcia esclarece que por não terem conquistado plenamente a oralidade, as crianças menores precisam ainda mais desse olhar: “Nada é bobeira. Nada em uma criança pode passar despercebido. O corpo da criança fala muito, ela está todo o tempo dando sinais”. E orienta que os pais também comuniquem à escola suas angústias, percepções ou mesmo alguma mudança na vida pessoal, seja uma perda, separação ou mesmo troca de casa. “A
escola pode contribuir abordando alguns temas com as crianças a partir do lúdico. Por isso essa troca com a família é tão importante”, opina.
E garante: “Quando a criança dá sinal de que alguma coisa está acontecendo, a gente tem essa percepção. Porque isso faz parte da missão da nossa creche. Mais do que o pedagógico, inclusive. O ponto alto da Kindergarten é o olhar para o outro: seja para a criança ou para a família”
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